Rafael Ludovico Moreira
[…[Cantar era buscar o caminho
Que vai dar no sol
Tenho comigo as lembranças do que eu era
Para cantar nada era longe, tudo tão bom
Té a estrada de terra na boléia de um caminhão
Era assim […]
(Nos bailes da vida – Milton Nascimento)
Muitos são os aspectos simbólicos e subjetivos que a música pode apresentar. Ela influencia o sujeito de maneira bio-psico social. Bruscia 1987 destaca:
Quando se toma uma perspectiva psicanalítica, um pressuposto principal é o de que música do indivíduo é uma projeção simbólica de aspectos inconscientes do self. Os elementos musicais e os processos através dos quais eles se revelam e interagem dentro da improvisação, são representações simbólicas de elementos inconscientes do self e dos processos através dos quais esses elementos se revelam e interagem na personalidade. Portanto, cada elemento musical representa simbolicamente um aspecto particular da personalidade, e cada processo musical corresponde a um processo psicológico.
Cada pessoa possui uma história, uma caminhada de vida. Conforme o tempo passa, essa história adquire marcas, cicatrizes, incorpora, aromas, cores, nuances, alegrias e tristezas. Cada um desses pontos muitas vezes é acompanhado por sonoridades, respirações, suspiros sufocados, estrondosas gargalhadas, sussurros, canções, músicas, danças e festas.
Nossas memórias fazem parte e se ligam ao que somos, ao que construímos durante a vida. Independente do contexto ou cultura, vivemos e somos influenciados pelas experiências adquiridas com o tempo.
Não é possível significar ou ressignificar a cidadania, sem fazer paralelos com a vivência, pois essa palavra traz consigo uma história em construção, marcadas por acontecimentos que delimitam o seu desenvolvimento. Ao nos depararmos com o título ressignificando a cidadania a partir a música precisamos entender que cada qual (cidadania e música), apesar de se desenvolverem a sua maneira, estão ligadas pelo contexto histórico e vão se encontrando e se mesclando com o passar do tempo. O mesmo acontece com a pessoa idosa, cuja a vida é marcada por acontecimentos que demarcam a sua vivência. A música atua na vida dessas pessoas favorecendo a lembrança dos acontecimentos mais importantes, ajudando o indivíduo a significar sua existência a partir desses marcos especiais.
Quando falamos sobre presenciar ou vivenciar uma escuta musical, não há uma bula específica que enquadre como cada pessoa responderá ou irá reagir a tais estímulos. Cada um apresenta um comportamento único diante do exposto, que vem em decorrência de diversas situações, como por exemplo experiência de vida, formação, ocupação, família, caráter, tipo de personalidade entre outros. Essa não é uma questão relacionada somente à música, encontramos respostas semelhantes em outros segmentos artísticos.
A ressignificação, dessa forma ocorrerá de maneira única. Cada indivíduo, a partir de sua própria experiência e vivência entenderá e, de acordo com suas possibilidades, construirá sensações e sentimentos do que foi vivido e do que realmente vale recobrar e “re- significar” buscando sentidos para continuar a caminhada.
O tema de trabalho é muito amplo e possibilita diversos desdobramentos de pesquisa e estudo. Precisa-se levar em consideração, que nenhum dos tópicos apresentados se fecha por completo, dessa forma, com o passar do tempo, eles podem assumir ou agregar novos significados e definições.
*Rafael Ludovico Moreira, Mestrando em Gerontologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Especialista em Gestão de Recursos Humanos pela FMU (Faculdades Metropolitanas Unidas) – 2014 e Bacharel em Musicoterapia pela FMU – 2013. Atua como musicoterapeuta na prevenção, tratamento e reabilitação de diversas doenças, experiência com musicoterapia organizacional, voltada para auto-conhecimento e resolução de conflitos e experiência com musicoterapia em geriatria com ênfase em reabilitação e tratamento de demências, assessoria em musicoterapia.
Referências:
BRUSCIA K.E. Improvisational Models of Music Therapy. Charles C. Thomas Publisher: Illinois (USA), 1987.
NASCIMENTO, M. Nos bailes da vida, Ano 1981