Rafael Ludovico*
Atualmente o processo de envelhecimento populacional é tema em alta na sociedade. Observa-se que no Brasil, a população está vivendo mais tempo, visto que as taxas de fecundidade caíram e a estimativa de vida subiu.
O processo de envelhecimento é multifatorial, podemos entendê-lo não só do ponto de vista fisiológico como através de uma visão social, cultural, histórica e psicológica. Mercadante e Brandão, 2009 p. 25 apontam:
Observamos, como falar sobre o envelhecimento nos faz refletir sobre seus múltiplos aspectos: o biológico e o cronológico, ambos associados aos diferentes ritmos individuais ligados ao tempo – externo / cronológico; ao tempo interno / biológico; e nas interações com os significados dos tempos vividos – cronos e kairós – reportando aos aspectos socioculturais.
Terceira idade, melhor idade, idoso, velho, maduro, enfim. Diversos são os adjetivos atribuídos à idade de vida mais avançada e ao sujeito que nela chega. Quando pensamos nesse momento de vida, muitos estereótipos sociais invadem nossas percepções e obnubilam nossa maneira de pensar a velhice. Observado isso, percebemos o quão difícil é tratar a velhice na atualidade, tanto do ponto de vista de políticas públicas de saúde, como observando pelo ângulo social/familiar e biológico. Segundo Oliveira et al (2012 p.88):
O equilíbrio psíquico do idoso depende da maneira como ele aceita a realidade que o cerca e quando isso não acontece de maneira positiva, surgem as reações psicopatológicas do envelhecimento. Com o surgimento das doenças que acometem a terceira idade, o indivíduo pode ser submetido a uma série de dificuldades e dependências que prejudicam na progressão e recuperação. Pode-se afirmar que o surgimento da doença pode afetar o grupo familiar em aspecto físico, emocional, econômico, sendo que esse grupo familiar tem maior proximidade com o paciente e poderá ter grande influência na sua recuperação.
A partir dessas modificações no âmbito sociocultural, observamos que se faz necessário adaptações no dia-a-dia que tornem mais viável a convivência do Idoso na sociedade.
Segundo Cunha (2003) apud Oliveira, Lopes et al, a música é considerada como meio de comunicação e expressão universal e seus elementos apresentam muitas diversidades, a atração pelos diferentes ritmos, instrumentos e elementos derivados, variam e estão relacionadas à questão social e cultural do ser humano. Oliveira, Lopes et al apontam também que a música é uma linguagem universal, está presente em qualquer época e cultura, e é aceita pelo ser humano conforme as reações psicológicas que esta proporciona a um indivíduo.
Federação Mundial de Musicoterapia (1996) descreve:
Musicoterapia é a utilização da música e/ou seus elementos (som, ritmo, melodia e harmonia) por um musicoterapeuta qualificado, com um cliente ou grupo, num processo para facilitar e promover a comunicação, relação, aprendizagem, mobilização, expressão, organização e outros objetivos terapêuticos relevantes, no sentido de alcançar necessidades físicas, emocionais, mentais, sociais e cognitivas.
Em um processo musicoterapêutico existem várias formas de abordar o paciente, Bruscia (2000, p. 109) relata que: “A música mobiliza todos os sentidos, e também produz estímulos motores, táteis e visuais, proporcionando-nos oportunidades de responder através destes canais sensoriais”. Dessa forma, podemos usar diferentes estímulos sonoros, de diversas épocas e fontes para estimular o paciente/cliente.
Oliveira et al (2012 p.89) Apud Padilha (2008) discorrem:
A influência musical em um paciente idoso é um fator significativo para proporcionar a este uma melhor qualidade de vida, pois a música pode melhorar o desenvolvimento motor e cognitivo, é responsável por facilitar a expressão de sentimentos, é considerada uma forma de comunicação que permite maior interação social e também é capaz de estimular o indivíduo a refletir sobre sua vida. A música também é um importante fator de contribuição para o desenvolvimento da coordenação motora e restabelecimento da memória. Dessa forma, essa terapia também é capaz de auxiliar na reinserção do indivíduo na sociedade, já que este, além de recuperar a capacidade motora de determinados movimentos, também passa a se sentir útil para a sociedade e para si mesmo, tendo mais autonomia e menos solidão, evitando doenças depressivas, características da terceira idade.
A partir das definições acima podemos observar que a musicoterapia é uma ferramenta que auxilia no desenvolvimento, prevenção ou reabilitação de doenças, podendo contribuir de forma relevante em diversos quadros clínicos apresentados, em especial para o idoso, devido as várias possibilidades de trabalho com esse público.
A musicoterapia visa sempre uma maior sociabilização, melhor desenvolvimento biopsicossocial, proporcionando momentos de alegria e prazer, fazendo com que o paciente sinta-se bem e descubra-se como ponto central de sua trajetória, significando e ressignificando sua existência de acordo com suas necessidades.
Referências Bibliográficas
Definição de musicoterapia disponível em: http://www.reab.me/musicoterapia-definicao-beneficios-indicacoes-e-links-uteis/ Acesso em 24/03/2017 – 18:07h
MERCADANTE, E. F.; BRANDÂO, V. M. A.T. Envelhecimento ou longevidade? São Paulo- Paulus, 2009.
OLIVEIRA, G. C.; LOPES V. R. S.; DAMASCENO, M. J. C. F.; SILVA e. M. A Contribuição da Musicoterapia na Saúde do Idoso. Cadernos Uni FOA Ed. nº 20 Dez. 2012.
*Rafael Ludovico Moreira, Mestrando em Gerontologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Especialista em Gestão de Recursos Humanos pela FMU (Faculdades Metropolitanas Unidas) – 2014 e Bacharel em Musicoterapia pela FMU – 2013. Atua como musicoterapeuta na prevenção, tratamento e reabilitação de diversas doenças, experiência com musicoterapia organizacional, voltada para autoconhecimento e resolução de conflitos e experiência com musicoterapia em geriatria com ênfase em reabilitação e tratamento de demências, assessoria em musicoterapia.